O Servo Job

Hei-lo sentado a um canto, humilhado e vencido,
Sem animo, sem paz, abandonado e só,
Envolto em cinza e poeira o corpo entumecido,

De vermes infestado e coberto de pó.
Pobre servo de Deus! Ele era ainda há pouco

O mais rico e feliz de todos os mortais,
E agora na miséria em que se encontra é um louco

De que fogem depressa a zombar os demais.

Nesse estado infeliz mais parece um mendigo

Que não tivesse lar nem pão nem prazer,
E a mágoa sem igual que ele leva consigo

Tira-lhe muita vez o gosto de viver.

E Job, no triste caos que é a vida de um leproso,

Abandonado e só no meio da aflição,
Desfaz-se num queixume amargo e doloroso

Que é um misto de saudade e lamentação:

"Todos os filhos meus eu quisera vê-los

em derredor de mim a sorrir e a cantar,

bem fortes e gentis, fortes e belos,
como outrora eu os via entrando no meu lar!"

Deus mos tirou, porém; e as ultimas centelhas

Que me restam da vida apagar-se-ão depois ...

Porque não vejo mais meus rebanhos de ovelhas,

Onde estão afinal minhas juntas de bois?"

"Tudo passou ... O céu agora está nublado

e os dias para mim são séculos fatais!

Todo o antigo prazer da vida tem passado
E, em pranto vou contando meus dias finais."

"Se não houvesse nascido eu nada sofreria ...

seja sem sorte o dia que eu nasci!
E assim não desce mais a luz á terra nesse dia

Até que a minha dor se separe se mim!"

"Eu sei que nada sou ...

O Todo - Poderoso elevou-me do pó

e encheu-me de vigor!

Depois o que me deu tirou majestoso:
Bendito seja sempre o nome do Senhor!!!"

Fez-se um grande silêncio.

O mundo está deserto

E o patriarca soluça envolvido no pó ...
Mas Deus unge dos céus o servo humilde e certo

Na grandeza imortal do carácter de Job!!! 

Manuela Oliveira / João Souto Ferreira